Sunday, May 31, 2009

Bettina




Muse

"Contava ela que no colégio em que andava não havia espelhos e, por isso, não fazia ideia como era. Até que um dia, tinha eu 13 anos, fiquei estarrecida quando, sentada com as minhas irmãs ao pé da minha avó, vi o grupo inteiro reflectido num espelho. Reconheci imediatamente todas, menos uma estranha rapariga com olhos de fogo, muito corada e com umas grandes tranças pretas. Nunca a tinha visto, mas fui logo atraída para ela. Em sonhos já tinha amado uma pessoa parecida com aquela. E havia qualquer coisa na expressão dela que me comoveu tanto que os meus olhos se encheram de lágrimas. E disse de mim para mim que tinha de seguir aquela criatura, prometer-lhe fidelidade e confiança. Se lhe fizer um sinal, sei que ela responde. Se me levantar, ela virá ter comigo. Nesse momento sorrimos as duas. Só nessa altura tive a certeza que, no espelho, tinha visto a minha própria imagem” (“Os filmes da nossa vida”, O Independente, 14 de Outubro de 1994; estes textos foram reeditados em livro).

Em jeito de remate certeiro, João Bénard da Costa deixa-nos a seguinte e valiosa análise: “Há quem interprete este passo como manifestação de narcisismo. Nada disso. Do que se trata é de espelhismos: fidelidade à imagem própria, como primeiro preceito corroborativo da verdade, da vida, da beleza e do amor”.

Beethoven.

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