Tuesday, January 12, 2010

Virtual


ALEXANDRE CABANEL (Sept. 28, 1823 – Jan. 23, 1889)

O Ciberespaço, constituído de fluxos de informações que relacionam os mais diversos meios de comunicação, mostra-se ao usuário sob a ótica do virtual que - ao contrário do que se acredita - não se opõe ao real e sim demostra aquilo que é potencial. "A palavra virtual vem do latim medieval virtuale, significando o que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual. Provém daí seu segundo significado como algo suscetível de se realizar; potencial. Na filosofia escolástica é virtual o que existe em potência, não em ato, resultando numa terceira referência à virtual como o que está predeterminado e contém as condições essenciais à sua realização" (Rey, 1998:29). Este conceito torna-se muito mais claro ao relacionar com a obra de arte: um exemplo de virtualidade é apresentado nas pinturas do renascimento italiano que através do estudo das leis de projeção da ótica, realizam o processo de transposição de espaços reais (tridimensionais) para um espaço virtual (bidimensional). O virtual aqui é a profundidade de campo que é somente sugerida com a intenção de "causar a ilusão" de espaço em três dimensões. Sem dúvida, existe a idéia de Mimesis (representação da realidade), que governou a criação de imagens por mais de quatro séculos de arte e que motivou a criação de novos meios de representação, como a fotografia, o cinema e, por último, a televisão.

"A virtualização não é, em nenhum momento, um desaparecimento ou uma ilusão. Ela é, afirma Lévy (nota), uma dessubstancialização que se inclina na desterritorialização, num efeito Moebius, na passagem sucessiva do privado ao público, do interior ao exterior e vice-versa. A subjetivação (dispositivos técnicos, semióticos e sociais no funcionamento somático e fisiológico do indivíduo) e a objetivação (influência dos atos subjetivos na construção do mundo) são dois movimentos complementares desse processo virtualizante. Para Lévy, a virtualização não é um fenômeno recente, pois toda a espécie humana se construiu por virtualizações (gramaticais, dialéticas e retóricas). O real, o possível, o atual e o virtual são complementares e possuem uma dignidade ontológica equivalente" (Lemos, s/d) .

Enquanto a virtualidade adentra questões da representação da imagem para o indivíduo que acessa informações, o Ciberespaço aborda os meios de relacionamento entre indivíduos que acontecem por meio de interfaces intrinsecamente virtuais. Embora a virtualidade seja um conceito independente da existência de meios tecnológicos de difusão de informações, o Ciberespaço necessita da virtualização para viabilizar o provimento de dados. Ou seja, ao colocar disponível na Internet - e consequentemente dentro do Ciberespaço - uma pintura qualquer, é necessário tornar a imagem virtual, uma representação digital ilusória daquilo que seria um objeto da realidade, mas ainda sim mantém potencialidades suficientes para a imagem ser entendida como originária de uma pintura. Tornar-se virtual não é privilégio das imagens:

"A Informação é uma virtualização. Se um acontecimento é retratado pelos media, essa circulação corresponde a uma virtualização do acontecimento, sob a forma da informação. Neste sentido, uma informação não é destruída pelo seu consumo justamente por ser sempre "virtualizante". A utilização/recepção da informação é a sua atualização, já que somos nós que damos sentidos a ela. Nós a atualizamos". (Lemos, s/d)
LEVY, Pierre. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves, São Paulo: Ed. 34, 1996.
todo o texto aqui

Este texto é parte integrante do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Artes Plásticas “Web Arte no Brasil: A arte telemática criada por artistas brasileiros para a Internet”, realizado sob a orientação do Prof. Dr. Milton Sogabe na UNESP – Universidade Estadual Paulista. Esta pesquisa em nível Iniciação Científica contou com o apoio da FAPESP.
© Fábio Oliveira Nunes

Nada do que aqui existe é portanto real, perde-se o sentido das dimensões, dos materiais, não temos cheiro, nem toque - nenhuma presença só imanência...
Contudo sinto-me compelido a continuar.

3 comments:

  1. Perde-se um bocadinho de tudo, inclusive de paciência.

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  2. Muito interessante este texto que nos alerta para o facto de que a virtualidade emerge cada vez mais nas nossas vidas e é verdade que sim. Justamente por vivermos numa época em que interagimos desta forma global, onde à distância de um clic podemos encontrar pessoas que nos encantam e com quem criamos laços, virtuais claro, onde podemos partilhar saberes e interesses mútuos e até nos sentirmos aconchegados por essa, virtual claro, no fundo sabe-se agora que tudo isto serve para nos ludibriar e termos a falsa sensação de proximidade. Qual a verdadeira diferença entre conhecer alguém neste meio ou num bar? Será que ao vivo e a cores não há relacionamentos virtuais também? Lembra-me uma música do Rui Veloso em que pede para a alguém para lhe mostrar o seu lado lunar e não se refere a relacionamentos internéticos… A primeira revelação é sempre adulterada, seja ela real ou imaginária, porque cada um de nós mostra de si o que quer mostrar, o que gostaria de ser, mas, lá diz a gíria do povo que a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima e isso acontece em qualquer cenário. Ler as palavras de alguém é uma forma muito fidedigna de conhecimento e talvez depois se possa passar aos cheiros, ao toque e à clareza do outro. Haja sempre forças a compelir…

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  3. No comentário anterior, leia-se na oitava linha: (...) por essa proximidade, virtual claro, (...)

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