Tuesday, January 12, 2010
Primo Benjamim
Chego ao largo da vila, parece-me ver o meu primo Benjamim sentado num dos bancos, como costumava estar - falando com amigos ou simplesmente a deixar-se estar, a ver passar as pessoas.
Dos sobrinhos do meu avô Francisco, o meu primo Benjamim era o que mais ares lhe dava, mesmo nos gestos, homens cientes do seu lugar, mas também prontos para a bonomia, uma pândega com amigos, mas respeito, claro, nada de começar logo com confianças.
O meu primo era calafate, acho que no estaleiro do Higino enquanto este funcionou, depois um pouco por onde fosse preciso, pelas margens do Tejo, a fazer biscates para quem pedia.
Agora já não são precisos calafates no Tejo, agora também já não podia ser o meu primo Benjamim ali no largo – já morreu o meu primo, como muito antes dele tinha morrido o meu avô Francisco, com quem ele era parecido.
Que ideia, lembrar-me assim de um primo morto, obreiro de uma profissão também desaparecida e um arrepio percorreu-me...
*Um calafate, é um operário especializado na vedação com estopa alcatroada das juntas entre as tábuas com que são feitos os barcos.
"O Calafate"
António Maria Eusébio nasceu a 6 de Dezembro de 1820, numa casa da antiga rua dos Marmelinhos que, uma artéria que, de resto, hoje está baptizada com o seu nome.
António Maria Eusébio, também apelidado de 'O Calafate', teve a glória de ser cantado, ainda em vida, por Guerra Junqueiro que acerca dele escreveu: "Por mais de meio século, ao ritmo de teu macete que martelava no escopro, aparelhaste barcos e canções: barcos - levando esperança e misérias; canções, levando lágrimas e risos. E que são barcos senão harmonias flutuantes. Uns em águas cristalinas, deslizam como idílios; outros como epopeias sulcam voragens e tormentas".
"Não sabendo ler nem escrever, és um grande Poeta meu ignorante e ignorado 'Cantor' de Setúbal. Os grandes poetas são os grandes homens e a grandeza humana aos olhos de Deus mede-se pela virtude, pela inocência, pelo juízo verdadeiro da nossa alma, pela ternura infantil do nosso coração. Ora a tua bondade, meu velho, exala-se das tuas cantigas sem arte, como um aroma delicioso dum matagal inculto que nasceu entre pedras".
"O Calafate" deixou uma vasta obra poética cheia do maior interesse, graça, e, por vezes, beleza. Foi o tipo mais popular de Setúbal, na segunda metade do século XIX – primeira dezena do século XX.
Faleceu em 22 de Novembro de 1911 com 91 anos menos quinze dias, de idade.
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