Tuesday, November 10, 2009

Clareza/Optimismo









“Para mim, que gosto de clareza, o negócio da venda de obras de arte, o mundo galerístico, é o sistema mais turvo que conheço. O que eu valorizo nas encomendas institucionais é não ter de pensar em vendas.”

“A fotografia suscita sempre um grande equívoco, que sempre me fascinou: toda a gente tira fotografias, toda a gente tem máquinas fotográficas. As pessoas que me estão a encomendar um trabalho julgam que sabem exactamente o que é e para que serve a fotografia e já têm um modelo na cabeça do que pretendem, que normalmente é o modelo standard de reportagem que melhor lhes pode publicitar a instituição.”

“Aquele pressuposto de que a fotografia é um gerador de estereótipos, e que a forma como as imagens são contextualizadas modifica o que se vê, coloca a pessoa que trabalha com esse medium numa posição delicada, em que tem sempre de pensar nas implicações éticas de gerar determinado tipo de imagens e de as fazer circular.”

“Tento construir uma espécie de universo fotográfico em que não abdico da sofisticação, mas em que qualquer pessoa pode, à partida, ver alguma coisa com que se identifique. Depois ensaio formas de interferência entre as imagens que possam criar uma espécie de curto-circuito que, idealmente, deveria fazer rebentar a instalação dentro da cabeça, fazer saltar os disjuntores do quadro (...).”

“Quero que as minhas imagens, porque aparentemente cristalinas, possam cativar quaisquer pessoas, para depois confundi-las. Se se sentirem confusas é porque estão a raciocinar. Talvez comecem a não tomar como garantido aquilo que está à frente delas. Isto de que estou a falar, por mais perigosa que seja a palavra, é claramente da ordem da ideologia.”

“O enquadramento é o primeiro acto de manipulação. Não há forma mais imediata de mostrar o que é uma fotografia que mostrar alguém a fotografar.”

Sobre Augusto Alves da Silva

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