Friday, December 10, 2010

Braço de Prata



À saída da estação de Braço de Prata a posição elevada do comboio permite ao passageiro uma visão privilegiada sobre o estuário do Tejo. A Norte, a ponte Vasco da Gama delimita o estuário, que se estreita para  Sul. Em frente, o que em dias de névoa passa por um mar, é hoje, nesta manhã de Outono tardio, um estudo em tons de cinzento - mais claro, quase transparente o do céu, depois mais escuro, quase negro, o da Serra da Arrábida, entre esta e a prata do rio - a outra margem.

O dia. Os dias passam.

Na viagem de regresso vi um velho reflectido na janela do comboio. Com um meio sorriso devolvia-me o olhar, pensei que a sua boa disposição seria devida à tensão erótica evidente, quase palpável, partilhada pelo jovem casal sentado em frente a mim.
Com um calafrio percebi que o velho era eu. O velho já sou eu.


Curtas viagens fazem uma vida longa.



1 comment:

  1. Há, ainda, curtas (longas) viagens por fazer.

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