Monday, December 6, 2010

avós





(- Vou fazer qualquer coisa irracional e desligar-me da máquina - só para provar que sou humano...)

O céu exibe no azul cristalino os rastos dos jactos do dia, está muito frio
as avós regressam a casa depois de um dia na apanha da azeitona.
Acendem os fogos nas salas, para tornar a noite suportável,
olham para a chama, como se não a vissem,
como se fossem apenas um espelho.
Dentro do peito armazenam o calor que  usarão depois como força motriz.
não sabes nada delas só por olhares para elas, sentadas no chão a tagarelar,
a fazer o que há para fazer.
Tens de seguir as teias que elas tecem, entender como seguram o mundo,
como as aldeias morrem com elas.


(Pensas no fogo que tudo transforma em cinza e na força que esmaga os frutos e nos dá os seus sucos, pensas no vinho e no azeite. Pensas que na origem de tudo existe uma vontade, um querer claro e preciso, aguçado como uma navalha. Pensas - escondido do frio e do escuro, opado como um pão.)

3 comments:

  1. bonito, muito mesmo, nada a ver com as avós (algumas) das cidades, dos centros perto das cidades...enfim essas já não têm histórias (fazem por as esquecer)

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  2. Todas as histórias contam...toda a gente conta.

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  3. A vós, avós,
    Que acendem o fogo,
    Que estão na origem
    Do fogo.
    No peito, a lareira
    sempre acesa.
    No peito, à flor da boca,
    As palavras que ninguém ousa.
    E, porque sois avós,
    O tempo perdoa,
    O tempo diz tagarelem
    Sejam mães dos filhos
    De vossos filhos.

    A vós, avós
    Tudo se permite.
    Avós,
    Tendes o posto
    Da idade.
    Os anos... ah,
    Os anos que correram em desfilada...
    O tempo teima ser
    "Grande escultor".
    O tempo não consegue esculpir
    A vida de vossos netos,
    Avós
    A vós
    Ergo a taça desolada
    De quem nem esteve
    Aqui
    De quem passou, por acaso.
    A vós, avós,
    Aldeias quase perdidas,
    Peço o pão
    Que Deus não deu.

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