(- Vou fazer qualquer coisa irracional e desligar-me da máquina - só para provar que sou humano...)
O céu exibe no azul cristalino os rastos dos jactos do dia, está muito frio
as avós regressam a casa depois de um dia na apanha da azeitona.
Acendem os fogos nas salas, para tornar a noite suportável,
olham para a chama, como se não a vissem,
como se fossem apenas um espelho.
Dentro do peito armazenam o calor que usarão depois como força motriz.
não sabes nada delas só por olhares para elas, sentadas no chão a tagarelar,
a fazer o que há para fazer.
Tens de seguir as teias que elas tecem, entender como seguram o mundo,
como as aldeias morrem com elas.
(Pensas no fogo que tudo transforma em cinza e na força que esmaga os frutos e nos dá os seus sucos, pensas no vinho e no azeite. Pensas que na origem de tudo existe uma vontade, um querer claro e preciso, aguçado como uma navalha. Pensas - escondido do frio e do escuro, opado como um pão.)
bonito, muito mesmo, nada a ver com as avós (algumas) das cidades, dos centros perto das cidades...enfim essas já não têm histórias (fazem por as esquecer)
ReplyDeleteTodas as histórias contam...toda a gente conta.
ReplyDeleteA vós, avós,
ReplyDeleteQue acendem o fogo,
Que estão na origem
Do fogo.
No peito, a lareira
sempre acesa.
No peito, à flor da boca,
As palavras que ninguém ousa.
E, porque sois avós,
O tempo perdoa,
O tempo diz tagarelem
Sejam mães dos filhos
De vossos filhos.
A vós, avós
Tudo se permite.
Avós,
Tendes o posto
Da idade.
Os anos... ah,
Os anos que correram em desfilada...
O tempo teima ser
"Grande escultor".
O tempo não consegue esculpir
A vida de vossos netos,
Avós
A vós
Ergo a taça desolada
De quem nem esteve
Aqui
De quem passou, por acaso.
A vós, avós,
Aldeias quase perdidas,
Peço o pão
Que Deus não deu.