Friday, June 18, 2010
passarola
Blimunda
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Blimunda Sete-Luas, personagem da obra Memorial do Convento, é filha de Sebastiana Maria de Jesus, uma mulher condenada pela Inquisição por ser cristã-nova. Na obra, Blimunda enceta uma relação íntima com Baltasar que vai contra os padrões da época, uma relação baseada na partilha, na fruição do amor pleno, sem compromissos ou culpa.
Esta personagem possui extraordinárias capacidades de vidente e um dom particular - a ecovisão - que lhe permite ver no interior dos corpos os males que destroem a vida – a hipocrisia e a mentira – mas também as verdades mais profundas que corroem o mundo e os homens.
Esta faculdade fora do comum permite-lhe ajudar na construção da máquina de voar do padre Bartolomeu de Gusmão, a passarola, sendo fulcral para o efectivo voo da mesma dado ter sido Blimunda quem recolheu as “vontades” vitais que permitiram que a máquina se erguesse do chão.
Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
1922-2010
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