Thursday, March 18, 2010
como conseguimos chegar à América
Eu gosto de pessoas, fico fascinado a olhar para elas...discretamente, claro.
Ainda hoje no Metro, em frente a mim sentou-se uma verdadeira encarnação de Lolita - blusa verde primaveril, a deixar ver toda a sua fresca feminilidade, num arrojo bem generoso. Grandes auscultadores amarelos nos ouvidos, sublinhavam a sua tenra idade e animavam ainda mais o seu aspecto.
Levanto-me e acima de todas as cabeças, destaca-se um moço, corta-vento preto sob um blusão de ganga gasta, calças de caqui corte aventura, o verdadeiro homem Malboro, enfrentando os desfiladeiros da grande cidade. Mais ao lado, uma moça, soberba composição : sobretudo negro, calças e sapatos castanhos, tudo de corte masculino.
Cabelo pintado de louro, muito curto colado à cabeça, como um jovem oficial (ou o Bowie dos anos de Berlim). Toque final : mala de mão e cachecol femininos e coloridos, é mesmo uma rapariga, e eu fico contente.
Como vêem eu gosto mesmo de pessoas, observo-as desde sempre.
Ontem à noite passeava junto ao rio, quando um bando de pássaros se levantou em alvoroço...lindos, nem sabia que andavam aqui pelo rio. Alguém disparava sobre eles protegido pela escuridão do cais, só o riso idiota os traía, isso e o estampido seco da arma de pressão de ar que usavam.
Uns dias antes, também à noite, num local onde as boas almas deixam comida para os gatos da rua, dois miúdos olham para nós com um riso idiota enquanto passamos, um deles tem um tubo através do qual sopra pedras com que magoa os gatos e os impede de chegarem à comida. A minha mulher tenta convencê-los a terem pena dos animais famintos, a procurarem um divertimento melhor, eles ficam-se imóveis, com o mesmo riso idiota nas caras, a esperar que dobremos a esquina e eles possam continuar a fazer mal porque sim.
Ás vezes, abate-se um desespero sobre mim e fica difícil continuar a acreditar nas pessoas.
Lembro-me então de coisas como a maneira como conseguimos chegar à América e acredito de novo...
(Fazendo cada vez mais longas navegações pelas costas de África, aperfeiçoando os barcos e os conhecimentos de ventos e correntes, aprendendo a navegar longe da costa, descobrindo ilhas e depois tendo todos estes apoios, acreditar e dar um salto maior).
Ainda hoje, podemos ser assim, mas de outras formas completamente erradas também.
No fim é sempre uma escolha de cada um que decide onde se chega.
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