Sunday, May 10, 2009

felicidade/utopia




É um homem feliz? Não acredito no conceito de felicidade. É uma nivelação por baixo daquilo que se pode esperar da vida – e o que se pode esperar da vida é a capacidade de tirar prazer da existência humana, sabendo coabitar ao mesmo tempo com o sofrimento que é inerente à espécie. Felizes podem ser, talvez, os besouros...

A inteligência impede-nos de ser felizes? A complexidade da inteligência impede-nos. A felicidade é um conceito utópico e eu não gosto de utopias. A minha vida é transformar o sofrimento das pessoas que me procuram num sofrimento comum. O sofrimento faz parte da espécie humana.

A felicidade é um conceito que nos “trama” porque andamos todos à procura de uma coisa que não existe? Então não é?! É uma utopia que se vende ao desbarato.

Carlos Amaral Dias em entrevista à Única do Expresso

12 comments:

  1. Não concordo minimamente.

    Talvez o problema esteja na caracterização implícita da noção de felicidade a que a jornalista e CAM se referem como um objectivo existêncial final em vez de um estado pontual e efémero. O conceito de felicidade é claramente subjectivo mas nem por isso deixa de existir.

    Há indubitavelmente momentos de felicidade - momentos de extâse e plenitude - que nos pontuam a vida mesmo em períodos de grande sofrimento. Todos já nos sentimos felizes e infelizes e todos alternamos entre estados de felicidade e de não-felicidade. A felicidade existe e não é uma utopia.

    "É um homem feliz?" é uma pergunta estúpida, de jornalista de revista semanal para as massas. A resposta de CAM está, infelizmente, à altura da pergunta.

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  2. Excelente comentário, muito obrigado.
    Estou quase inteiramente de acordo com ele, apenas penso que não estamos a fazer inteiramente justiça a Carlos Amaral Dias, ele respondeu com o conhecimento que tem e diz coisas válidas.
    Ou seja, quando hoje nos vendem um carro, um apartamento, qualquer bem, vendem-no com um coeficiente de felicidade incluído. Antes da crise este era o mundo da felicidade eterna, bastava continuarmos a ter acesso ao crédito e toda a felicidade do mundo estava ao nosso alcance : cirurgia plástica para sermos belos, os melhores sitios para viver, as melhores viagens, enfim tudo para que tivéssemos uma vida interessante e feliz. Mesmo drogas para fazer upgrade à nossa quimica cerebral.
    Penso que o intuito de CAM, foi desmascarar esta felicidade vendida por atacado, foi assumir que sermos humanos inclui uma dose de sofrimento e que portanto a felicidade constante é uma utopia.
    Que tudo é ligeiro e vulgar, é, que é próprio de uma revista de fim de semana, sim, que faz pensar e deu azo a esta conversa, também e isso acho eu já é bastante bom.
    Por favor, comente mais.

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  3. É inegável que há momentos de felicidade que podem ser comprados, ou dito de outra forma, há momentos de felicidade que derivam directamente de qualquer coisa que implicou um gasto monetário. Contradizê-lo é de uma tacanhez intelectual que não fica atrás da resposta crassa de CAD à menina que o entrevistou e que já vi reproduzida como máxima profunda em vários blogs portugueses...

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  4. Agora mon cher, é não querer ver - áquilo que no meu entendimento, as pessoas aderiram foi à afirmação de que a felicidade, enquanto ingrediente publicitário, é uma utopia demagógica e enganadora.
    Eu, pessoalmente, tenho um desvio cristão que me leva a acreditar numa melhoria continuada e num futuro melhor. Mas a vida já me ensinou, que nunca vamos passar sem sofrimento. Que o sofrimento nos torna humanos e nos aproxima.
    Não quer dizer que se negue a felicidade, nem sequer a utopia.

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  5. Pergunta : a minha escolha de ilustração, enriqueceu o desafio ?

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  6. Desculpem a minha visão talvez demasiado pragmática da problemática mas mais uma vez não concordo. Não passa pela cabeça de ninguém que o tipo de felicidade a que um anúncio de automóveis apela seja o da felicidade eterna e utópica em que o sofrimento está ausente para todo o sempre. Um anuncio de automóveis - assim como qualquer outro anúncio que não seja da Igreja Universal do Reino de Deus e afins - apela a uma felicidade imediata e necessariamente limitada no tempo.

    Porque não há outra felicidade possível.

    Aliás quando o CAD afirma que não acredita no conceito de felicidade, contradiz-se de forma involuntária imediatamente a seguir (o que curiosamente acontece inúmeras vezes durante a entrevista) definindo ele próprio o conceito de felicidade: "a capacidade de tirar prazer da existência humana"...

    Enfim. Acho que já deu para perceber que não tenho o senhor professor doutor CAM em elevada estima e consideração pelo que não vale a pena alongar-me mais em comentários aos seus devaneios.

    Confesso que não compreendi a ilustração escolhida face ao contexto...

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  7. Bom, penso que em relação à nossa confiança mútua na possibilidade da felicidade, chegamos a um acordo. Igualmente no facto de a mesma ser episódica, também.
    Em relação ao quadro, penso que ele ilustra a utopia da modernidade, mas introduzindo o distanciamento do tempo que já passou...
    Como nos anos sessenta a ciência e a tecnologia pareciam ir tornar, tanta coisa possível e como nos falharam...

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  8. A ciência e a tecnologia superaram muitos dos sonhos dos anos 60 e criaram possibilidades com que nem sequer sonhávamos!!!

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  9. Verdade, mas deixaram-nos sós perante um universo imenso e solitário...Ninguém nos ajuda a distinguir o bem do mal, ninguém nos dá sentido à vida.
    Temos de criar tudo sempre, fail, fail again, fail better.
    (Falha, falha outra vez, falha melhor.)

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  10. Solitário???!! Até fazes amigos no Omegle!!!

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  11. Pois, se isso é fazer amigos...Mas ao que eu me referia mesmo, é à certeza mais ou menos certa, de que no espaço alcançável por nós não existem, mais formas de vida inteligente para além da nossa.
    Portanto, estamos mesmo entregues à nossa sorte.

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  12. Essa é muito boa!!! Quem disse???!!!

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