Monday, October 3, 2011

sobreviver ao deserto

Há montes de gente bonita, por aí
Tem de ser uma coisa boa, não tem ?
Como um sinal ou um augúrio
como aquilo que os romanos procuravam no voo das aves,
Ou nas entranhas dos animais sacrificados…

Cada dia sem ti, é um deserto sem fim.

O tempo costumava ser fácil e simpático,
Tal qual uma boa loja, daquelas com corredores largos
E um sitio para cada coisa…
eu seguia-te para todo o lado tu decidias o que havíamos de levar.
Até que te foste sem mim.

Cada dia sem ti, é um deserto sem fim.

Eu enrolo-me num canto,
Os meus ombros fecham-se sobre o peito
Esmagados pelo peso de asas que já não tenho,
Tu levaste a minha capacidade de voar…e a vontade também.

Os desertos são lugares enganadores,
À primeira vista tudo parece igual e imutável,
Mas quando nos encontramos neles, descobrimos como tudo
Não pára de mudar.

Só há uma maneira de sobreviver ao deserto e é saindo dele.
(o que vale para ti, tem de valer para mim também).

1 comment:

  1. "Que quer dizer a mágoa sempre que se deixa
    fazer sentir, quando se afasta depois
    de ocupar os únicos sítios? O que quero
    dizer fica menos veloz. A evitar o azul branco
    do céu sobre mim, a visitar esta terra só
    de inverno. Seria inútil começar agora
    uma conversa mais explícita, talvez
    sobre o ritmo exigente da cidade em que estás
    ou sobre a actividade quase perfeita das crianças
    em redor. Prefiro calar-me, sentir o vento
    que vem do mar, rir um pouco tropeçando
    na madeira corroída.
    "De pouco serve escutar assim as vozes
    já tão cansadas, antes a cuidadosa escolha
    das tábuas a pôr na casa vazia. Depois
    falaste-me de um eco, de um barco inclinando-se,
    da casa que não tens.
    Esgota-se o que mais falta. Que vamos
    dizer? Está bem amo-te. E ao fogo
    acabando na cinza, à manhã que não existe."

    João Miguel Fernandes Jorge, in Entre o Deserto e a Vertigem

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