Monday, April 5, 2010
melhor do que isto aqui
Esta semana mato o cabrito. Ando a engordá-lo desde o Natal, deixei-o mamar na cabra até querer, depois foi sempre mimo e papas tenras.
No Domingo, o rapaz e a rapariga virão da cidade e trarão os netos. Teremos mesa farta para todos, do bom e do melhor, que a mãe deles, lá nisso nunca falha.
Será o dia de festa da aldeia : logo de manhã alvorada com morteiros, cedo chegará a banda filarmónica que seguirá a tocar pelas ruas. Levarei os pequenos comigo atrás da banda um bocado, a mostrar-lhes a terra onde nasceram os avós e os pais, a mostrá-los aos outros também, claro, depois antes do almoço, levo-os até à fazenda.
Eles brincarão com a cabra, verão as galinhas e saberão donde vêm os ovos. Dir-lhes--ei onde plantei as batatas e mostrarei onde estão as crescer os alhos, os cebolos e a maternidade das alfaces, dos feijões, dos tomates e dos pimentos.
Depois do almoço, teremos missa e procissão em honra da Senhora da Saúde. Recolhida a Santinha a banda tocará no adro da igreja a sua despedida e toda a gente aplaudirá os músicos, lhes baterá nas costas e lhes oferecerá de beber.
O adro ficará então desimpedido para o leilão das oferendas, acondicionadas em tabuleiros de pão forrados com boas toalhas de linho. As raparigas casadoiras mostrarão os tabuleiros, andando em círculos à frente de todos.
As moças estarão vestidas nas suas melhores roupas e sapatos finos. O chão do adro, maltratado das chuvas, dificultará muito os seus passos, mas elas sorrirão o tempo todo e o pregoeiro puxará pela malta tentando conseguir sempre melhores lances.
Quando eu era novo, rapaz que quisesse uma rapariga, tinha de arrematar o tabuleiro que ela carregava. Hoje são os velhos que fazem os lances e será tudo feito com alguma pressa, porque se vai fazendo tarde para quem tem de ir embora.
O sol entretanto começa a ficar baixo, lancharemos ainda no quintal, ou dentro se o tempo não estiver para isso e depressa todos estarão a deixar a aldeia e a voltar às suas terras de agora.
No dia seguinte, voltarei à fazenda, soltarei a cabra para pastar agora só e voltarei ao almoço para comer os restos. O dia da festa serão apenas instantes, como cromos a perder a cor na minha cabeça e do que eu me lembrarei melhor serão os risos e a tagalerice dos garotos. A seguir voltarão no Natal, porque no Verão precisam de praia que agora dizem é bom para eles, melhor do que isto aqui...
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