Glórias passadas

Uma figura negra passa por mim,
no escuro consigo distinguir-lhe os traços
Como está velho já, tão descaídas as suas feições
ainda há bem pouco, alto e orgulhoso
exercia de patriarca de uma familia cigana.
Visto de relance, ainda nos engana com o seu porte
mas é já um fraco velho, quando nele se detém o nosso olhar.

À minha frente segue um cão preto,
conhecido de todos, ninguém sabe bem quem é o seu dono
acho que ele também não se importa, é o cão da vila
Anda pelo largo e logo decide a quem há-de seguir,
nesse dia, sem compromissos.

Da encosta os columbófilos, fazem soar os seus apitos
chamam os seus campeões para casa.
Eu também, fiz de campeão algumas vezes
joguei pela equipa da terra, por pelados secos e enlameados,
Marquei golos e dei saltos de alegria
em instantes de glória fugaz,
tudo isso passou já, uma curta corrida, deixa-me agora
com o coração pela boca.

Do alto do monte soam os apitos
chamam os campeões para casa
Todos nos encontraremos lá,
glórias passadas, patriarcas envelhecidos, cães sem dono...