Monday, February 1, 2010

Liberdade

(falta uma citação de Séneca)

Ai que prazer
não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal
como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol,que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Ática, Lisboa Maio de 1970
edição de Luís de Montalvor


Freedom, by Fernando Pessoa, an attempt of translation
(a Séneca quote missing here)

Oh, what a pleasure
not to follow a duty!
To have a book
and not read it!
Reading is boring.
Studying is nothing.
The sun shines without literature.
Rivers run without original editions.
And the breeze, so natural to the morning, has plenty of time, and no rush...

Books are papers painted with ink.
Studying is something that can´t distinguish nihil from nothing.

The best is the mist.
It doesn´t matter if Dom Sebastião will ever come back.

Great is the poetry, goodness, and the dances.
But the best in this world are the children,
Flowers, Music, Moonlight, and the Sun, whose only flaw
is sometimes burning instead of making life bloom.

And more than anything else, Jesus Christ,
who didn´t know anything about finances,
and never owned a library.

5 comments:

  1. a ler:

    http://omj.no.sapo.pt/Forum/poema_liberdade.htm


    Obs. Gosto mais da versão original

    "Quanto é melhor, quando há bruma,
    Esperar por D.Sebastião,
    Quer venha ou não!"

    Acho a tradução "The best is the mist." quase hilariante.

    ReplyDelete
  2. Curioso, Claudia ontem quando procurei o poema deparei exactamente com esse post que achei interessante também.
    Apesar da tua critica, creio que a tradução passa a ironia do poema...Usei-a por copy/paste a partir daqui : http://lucianasocean.blogspot.com/2009/01/freedom-by-alberto-caieiro-fernando.html

    ReplyDelete
  3. Um ponto final (versão que copiaste) não é uma vírgula (versão original). Já reparaste no quanto se propagam os erros na Net graças ao cut-and-paste indiscriminado?

    ReplyDelete
  4. Claudia, vou ter de procurar a versão original...Quanto ao problema do cut-and-paste, tens 100% de razão - nós por enquanto ainda vamos aos livros ou confrontamos fontes...
    Penso contudo que algumas academias começam a armar-se de softwares capazes de detectar o cut-and-paste.

    ReplyDelete
  5. Muito obrigado, Claudia, esta é a versão do livro que tenho.

    ReplyDelete