tag:blogger.com,1999:blog-5427528615529432157.post5611304813997857560..comments2023-04-15T09:53:13.013+01:00Comments on truelovetoo: Christmas eve 2010joaop1960@gmail.comhttp://www.blogger.com/profile/05632147700787201831noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-5427528615529432157.post-21561660191123529462010-12-29T18:03:44.383+00:002010-12-29T18:03:44.383+00:00“Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos...“Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos nós cegos, puxo um fio que me aparece solto. <br />Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os dedos.<br />É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos, e tem a macieza quente do lodo vivo.<br />É um rio.<br />Corre-me nas mãos, agora molhadas.<br />Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de repente não sei se as águas nascem de mim, ou para mim fluem.<br />Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o próprio corpo do rio.<br />Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os barcos e o céu que os cobre, e os altos choupos que vagarosamente deslizam sobre a película luminosa dos olhos.<br />Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas águas como os apelos imprecisos da memória. Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.<br />Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e firme pulsar de coração.<br />Agora o céu está mais perto e mudou de cor.<br />É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo acorda o canto das aves.<br />E quando num largo espaço o barco se detém, o meu corpo despido brilha debaixo do sol, entre o esplendor maior que acende a superfície das águas.<br />Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas da memória e o vulto subitamente anunciado do futuro.<br />Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar calada sobre a proa rigorosa do barco. Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que as aves digam nos ramos por que são altos os choupos e rumorosas as suas folhas.<br />Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem, sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas verticais circundam.<br />Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra viva.<br />Haverá o grande plano primordial quando as mãos se juntarem às mãos.<br />Depois saberei tudo.” José Saramago<br /><br />Fantásticas estas fotos do Tejo.Anonymousnoreply@blogger.com